Flavio José - A Natureza das Coisas

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

RESENHA CRITICA - CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS. Direção: Marcelo Gomes. Roteiro: Marcelo Gomes, Paulo Caudas e Karim Ainoiz. Brasil: Imovision, 2005, 90 min.


Cinema, Aspirinas e Urubus é uma comovente história sobre duas pessoas completamente opostas que fogem das mazelas de suas terras.

No filme, Johann (Peter Kenath) é um alemão que , por conta da Segunda Guerra Mundial, fugiu do seu país, chegando ao Brasil em um caminhão trazendo consigo um remédio recém lançado por um laboratório alemão. Esse remédio é a tal conhecida por nós hoje,a Aspirina.

O mais interessante do filme é o modo de como Johann faz a propaganda do remédio: ia de povoado em povoado do sertão de Pernambuco, apresentando o em forma de filme através de lona penduradas em praças públicas, encantando aquele povo humilde do sertão, que jamais tinha visto imagens em movimento, que por isso mesmo, acreditava tratar-se de um remédio milagroso.

Durante a sua odisséia, Johann conhece Ranupho (João Miguel), que infeliz com sua vida , resolve seguir viagem com ele.Eles tem personalidades completamente diferentes. Enquanto Johann é mais quieto, talvez pela dificuldade de linguagem; Ranupho não para de falar.

Apesar das diferenças dos dois protagonistas, nasce entre eles um laço de amizade e um relacionamento profissional. Contudo, quanto mais Johann queria embrenhar-se pelo sertão nordestino, o que Ranupho queria era conhecer o Rio de Janeiro, pois não existia para ele , lugar pior que o sertão.

O enredo é simples, mas encantador, pois mostra a realidade de um sertão nordestino seco e sofrido, como também suas paisagens simples e intensa, na qual vivem pessoas que, apesar das dificuldades, tem seus sonhos.

Com uma linguagem clara, as interpretações dos personagens são bastante sinceras, a luminosidade das filmagens é tão forte que em alguns momentos temos a sensação de sentir um forte calor do sertão enquanto assistíamos ao filme. Além da fotografia, também merece destaque as atuações dos protagonistas que ajudam a conduzir o espectador nesta trama com uma beleza simples e sincera.

Apesar da história ter se passado em 1942, ainda hoje em pleno século XXI, com a maioria dos estados da região nordeste continua com os mesmos problemas: seca, falta de trabalho, falta de perspectiva de vida.

O cineasta Marcelo Gomes foi premiado no último Festiva de Cannes. Para esse filme, baseou-se em seu tio que também vendia Aspirinas no Brasil dos anos 40 e pela ligação afetiva com a região. Quando criança, vivia noites escuras e dias quentes com uma claridade forte que chegava a “cegar”.

Cinema, Aspirinas e Urubus é um filme humano e poético que ajuda o nordestino a redescobrir a sua terra e perceber que apesar de todas as dificuldades e principalmente da seca, ainda há espaço para o sonho e a esperança de uma vida digna.

2 comentários:

Delian disse...

Realmente Lé o filme Aspirina retrata o povo sertanejo,a seca do Nordeste,ele tem as características do filme Vida Seca,surge várias reflexões.

euma disse...

Era o sonho de todo sertanejo mesmo Lé mas isso mudou muito mas valeu assistir ao filme e rever como sofria e sofre nosso povo nordestino fugindo da seca que assola todo o nordeste.